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“Uma população Financeiramente Educada é mais resiliente e menos vulnerável ao endividamento”


Num contexto económico cada vez mais exigente, compreender o universo financeiro deixou de ser uma vantagem para se tornar uma necessidade básica. Em Portugal, porém, a literacia financeira continua a revelar fragilidades profundas — um cenário que exige não apenas análise, mas também orientação qualificada. É precisamente aqui que surge a perspetiva de Elísio Correia, Sócio-Gerente da LOGIFISCO, cuja experiência e visão clara o tornam uma das “vozes” mais esclarecidas neste domínio. Nesta entrevista concedida à Business Voice, Elísio Correia aborda, com rigor e simplicidade, os desafios que os portugueses continuam a enfrentar na gestão das suas finanças e explica porque é que investir em conhecimento é, hoje, tão crucial como poupar. Uma conversa que ilumina o estado da literacia financeira no país e que reforça a importância de capacitar cidadãos e empresas para tomarem decisões mais informadas, seguras e conscientes.

Como avalia o nível atual de literacia financeira dos portugueses — tanto a nível individual como empresarial — e quais considera serem as principais lacunas que ainda persistem no país?
Nota-se que em Portugal tem vindo a melhorar, mas persistem lacunas significativas tanto no público geral como nas empresas. Muitos portugueses continuam a ter dificuldades em orçamento, poupança, compreensão do crédito e planeamento financeiro. Nas empresas, sobretudo PMEs, observa-se boa literacia operacional, mas falhas na gestão estratégica, nomeadamente tesouraria, o risco e o financiamento.

A literacia financeira começa na escola ou em casa? Que papel acredita que o sistema educativo português deveria desempenhar na formação financeira das novas gerações?
A literacia financeira forma-se em dois ambientes: em casa, com hábitos e atitudes, e na escola, com conceitos estruturados. O sistema educativo pode beneficiar de um currículo obrigatório que inclua orçamentação, juros compostos, uso responsável do crédito, investimento básico e exercícios práticos.

Na sua experiência, quais são os erros mais comuns que as pessoas e as empresas portuguesas cometem na gestão financeira do dia a dia, e como poderiam ser evitados?
Entre indivíduos: o pensar e viver "mês a mês", ou seja a curto prazo, o uso excessivo de crédito e ausência de um fundo de emergência. 
Entre empresas: por vezes a falta de planeamento de tesouraria, mistura de contas pessoais e empresariais e subcapitalização. Estas falhas podem ser mitigadas com formação prática e processos simples de controlo financeiro.

As pequenas e médias empresas são a base da economia portuguesa. Quais são, na sua opinião, os maiores desafios de literacia financeira que os empresários enfrentam e como a Logifisco procura ajudar a superá-los?
As PMEs enfrentam desafios como gestão de cash-flow, definição de preços, carga fiscal e acesso a financiamento. A Logifisco tem apoiado com relatórios de gestão, monitorização de tesouraria, aconselhamento fiscal e suporte em decisões financeiras, cada vez mais o empresário antes de tomar uma decisão importante de investimento consulta-nos primeiro.

Como é que a recente conjuntura económica — marcada por inflação elevada e subida das taxas de juro — tem afetado o comportamento financeiro dos portugueses? Nota alguma mudança positiva ou negativa na forma como as pessoas gerem o seu dinheiro?
A inflação e o aumento das taxas de juro reduziram o poder de compra das pessoas e aumentaram o custo do crédito. Isto levou muitos portugueses a rever despesas, a procurar renegociar créditos e a valorizar ferramentas de controlo financeiro.

As novas tecnologias — como apps de gestão financeira, banca digital ou inteligência artificial — estão a contribuir para melhorar a literacia financeira ou, pelo contrário, estão a criar uma falsa sensação de controlo?
Apps financeiras, banca digital e IA ajudam a simplificar a gestão do dinheiro, mas podem criar excesso de confiança se usadas sem compreensão. A solução é combinar tecnologia com formação financeira.

Muitos portugueses ainda vivem “mês a mês”. Que passos concretos recomenda para que uma pessoa comum possa começar a construir uma relação mais saudável e sustentável com o dinheiro?
- Registar despesas
- Cortar custos não essenciais
- Criar e automatizar um fundo de emergência
- Priorizar pagamento de dívidas com maior custo
- Usar orçamento de base zero
- Aprender conceitos financeiros essenciais

Portugal continua a ter níveis elevados de endividamento das famílias. Como podemos equilibrar o acesso ao crédito com a responsabilidade financeira e o consumo consciente?
É necessário promover transparência (TAEG, prazos e custos), educação financeira e avaliação rigorosa da capacidade de pagamento para equilibrar acesso ao crédito e responsabilidade.

A literacia financeira pode ser também um instrumento de inclusão social e sustentabilidade económica. De que forma a boa gestão financeira pode contribuir para uma sociedade mais equilibrada e justa?
Uma população financeiramente educada é mais resiliente, menos vulnerável ao endividamento e mais capaz de empreender, contribuindo para uma sociedade mais equilibrada.

Como imagina o futuro da literacia financeira em Portugal daqui a 10 anos? Que medidas ou transformações considera essenciais para elevar o conhecimento financeiro dos cidadãos e das empresas?
Considero que a próxima década deve focar-se em:
- Formação nas escolas
- Programas nacionais coordenados
- Incentivo à formação financeira das PMEs
- Tecnologias reguladas e transparentes
- Monitorização contínua com indicadores claros
Em jeito de conclusão:
Considero que melhorar a literacia financeira dos portugueses é essencial para a estabilidade das famílias, competitividade das empresas e resiliência da economia nacional. O caminho passa por educação prática, apoio institucional e uso inteligente de tecnologia.

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