“Para mim a Advocacia não é um título, é acima de tudo um Compromisso”
Há profissionais cuja presença transforma silenciosamente o próprio significado da sua área. Lígia Rosa, Advogada com 22 anos de experiência, é uma dessas figuras. Mais do que uma carreira consolidada, traz consigo uma visão profundamente humana sobre o papel do Direito e sobre o impacto que a advocacia pode — e deve — ter na vida das pessoas. Numa época em que o setor jurídico enfrenta desafios constantes e exige cada vez mais sensibilidade, rigor e ética, Lígia Rosa destaca-se não apenas pela competência, mas pela forma como vive o compromisso de ser advogada. Nesta entrevista, mergulhamos no percurso de uma profissional que acredita que a advocacia é feita de propósito, coragem e responsabilidade — uma missão que vai além de títulos e que se constrói diariamente com verdade e dedicação.
No sentido de contextualizar junto do nosso leitor, fale-nos um pouco de si e de que forma é que a Advocacia entrou na sua vida?
Tenho escritório na cidade de Setúbal. A minha jornada no mundo da Advocacia começou muito cedo. A verdade é que sempre ambicionei contribuir para um mundo mais justo.
Nunca olhei para a Advocacia como uma opção, mas sim como um caminho a percorrer. Agreguei em junho de 2003 e abri o meu primeiro escritório tinha o meu filho poucos meses de vida.
Os primeiros anos de exercício em prática individual, foram extremamente difíceis, mas também desafiantes e muito enriquecedores.
Exerço Advocacia há 22 anos e pelo caminho houve alguns tropeços, é certo, mas também muitas vitórias. Com o passar dos anos, fui conseguindo demonstrar o profissionalismo e a total entrega com que me dedico a todas as causas, pelo caminho fui colecionando lições de vida e superação, e hoje com 47 anos, sinto-me realizada, faço o que gosto. Para mim a Advocacia não é um título, é acima de tudo um compromisso.
A advocacia é tradicionalmente vista como uma profissão exigente e muitas vezes conservadora. Que papel acredita que a inovação tem hoje no exercício do Direito e de que forma a tem aplicado na sua própria prática profissional?
É certo que a Advocacia é tendencialmente conservadora e muito exigente, mas é nosso dever acompanhar a evolução dos tempos mantendo-nos atualizados. Ainda sou do tempo do fax e das disquetes e hoje seria impossível exercer a profissão sem a utilização das ferramentas que temos ao dispor.
A plataforma informática citius permite-nos uma gestão processual muito mais facilitada, mais rápida e menos burocrática, onde nos é permitido realizar a maioria das atividades online, nas quais se inclui a entrega de peças processuais, consulta de processos e desmaterialização de documentos. A plataforma visa tornar o sistema judicial mais rápido, transparente e menos burocrático, e o objetivo tem sido conseguido.
Por outro lado, e no que à IA diz respeito, ainda existe um longo caminho a percorrer. Entendo que estando ao dispor de todos no geral oferece grandes perigos, pois não sendo detentor dos conhecimentos necessários, o risco de fazer falsas interpretações e tirar conclusões erradas é gigante, mas quando utilizada por profissionais como ferramenta de trabalho pode sim, sem dúvida, ser uma mais valia.
Que qualidades considera essenciais para inspirar e conquistar o respeito no mundo da Advocacia?
Postura correta, comunicação eficaz, capacidade analítica, estratégia, organização e proatividade, empatia, honestidade, profissionalismo, rigor e humanidade.
Carregar o peso da causa alheia com coragem, ética e determinação. Saber falar quando todos calam e permanecer em silêncio quando todos gritam.
O sucesso de uma advogada passa não apenas pelo domínio técnico, mas também pela capacidade de gerir pessoas, clientes e emoções. Como equilibra estes diferentes papéis no seu dia a dia?
A chave para o sucesso é manter a calma em situações de grande stress e saber gerir expectativas.
Se por um lado é imperativo abstrairmo-nos de sentimentos, mantendo uma postura profissional correta, objetiva e direta, por outro lado, não nos podemos esquecer que lidamos e trabalhamos com pessoas e para pessoas.
Tem de haver sensibilidade, principalmente quando as emoções dos clientes estão à flor da pele. O que não pode acontecer, é permitir que as emoções que nos são trazidas afetem o nosso trabalho.
A igualdade de género nas profissões jurídicas tem evoluído, mas ainda enfrenta desafios. Quais considera serem os principais obstáculos que as mulheres enfrentam na advocacia atualmente — e que mudanças acredita serem urgentes para alcançar um verdadeiro equilíbrio?
Existem cada vez mais mulheres na advocacia e na magistratura, arrisco-me mesmo a dizer que na justiça, a grande maioria já somos mulheres. O problema ainda está na cabeça de quem solicita a prestação dos nossos serviços.
Felizmente já não são muitos, mas ainda existem portugueses com a ideia errada de que um Homem Advogado é mais competente que uma Advogada.
A competência está na inteligência, na perspicácia, na capacidade de gestão de conflitos, na forma como se reage e como se abordam os temas, na tenacidade, na ética e no profissionalismo. É uma questão de mentalidade, felizmente cada vez mais dissipada.
Falemos de inspiração: que figuras, momentos ou experiências marcaram o seu percurso e a motivaram a construir uma carreira sólida e diferenciadora no mundo jurídico?
A minha grande inspiração começa com a minha mãe, mulher de valores, com uma garra inigualável.
Ao longo da vida outras mulheres me foram inspirando, a grande maioria das vezes figuras menos conhecidas, mas verdadeiros exemplos de resiliência e superação.
O grande marco na minha vida aconteceu em 2019. Um dos momentos mais marcantes e mais complicados na minha vida profissional, nessa altura a superação veio por inspiração dos colegas que me apoiaram de forma extraordinária.
A advocacia também é feita de ética, empatia e propósito. Como define o propósito que orienta a sua atuação e que impacto gostaria de deixar, tanto na profissão como na sociedade?
Tenciono continuar a exercer a minha profissão de forma livre e independente, com a maior honra e profissionalismo. Gostaria de ser lembrada como alguém que teve a capacidade de vencer no mundo jurídico com total honestidade e transparência.
Por fim, que mensagem deixaria às jovens mulheres que sonham seguir uma carreira no Direito e que aspiram não apenas a exercer advocacia, mas a liderar, inovar e inspirar através dela?
Trabalho, esforço e dedicação. Transparência, ética e compromisso. Constante adaptação ao mundo moderno, foco e determinação!