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“A Liderança Feminina na advocacia tem vindo a ganhar espaço”



“Desde cedo percebi que, no Direito, ser mulher é estar permanentemente a quebrar tabus.” A frase poderia ser de muitas profissionais que, dia após dia, enfrentam estereótipos enraizados e barreiras silenciosas numa área historicamente dominada por homens. Mas é, com particular convicção, de Mafalda Coimbra Silva, Advogada e Fundadora da Coimbra e Tavares Advogados. A sua trajetória, marcada por coragem, determinação e uma visão disruptiva da Advocacia, reflete não apenas a ascensão de uma carreira de excelência, mas também o papel transformador que as mulheres assumem hoje no universo jurídico em Portugal. Nesta entrevista, partilha connosco o seu olhar sobre o presente e o futuro da profissão, e sobre a forma como a igualdade de género continua a ser construída — com resiliência, competência e uma vontade inabalável de deixar marca.

Vive o Direito de forma completamente apaixonada. De onde vem essa paixão e de que forma ela molda o seu estilo de trabalho e a relação com os clientes?
Quando penso no meu percurso enquanto Advogada, não consigo separar o meu percurso profissional da minha essência enquanto Mulher Empreendedora. 

O que a motivou a criar o Coimbra e Tavares Advogados e quais foram os maiores desafios — e conquistas — desse processo de empreender no setor jurídico?
A minha escolha pelo Direito nunca foi apenas uma decisão de carreira — foi, sobretudo, um compromisso com a justiça, com a clareza e com a dignidade das pessoas. Sempre acreditei que o Direito tem de ser próximo, útil e compreensível. Talvez essa convicção venha justamente da minha condição feminina: do olhar atento, da coragem de não aceitar as coisas como “estão feitas” só porque sempre foram assim.

Como mulher, fundadora e líder, quais obstáculos enfrentou para afirmar-se num setor ainda marcado por fortes estruturas tradicionais, e como conseguiu ultrapassá-los?
Desde cedo percebi que, no direito, ser Mulher é estar permanentemente a quebrar tabus. Por muito que hoje exista uma presença cada vez mais significativa de mulheres na profissão, ainda enfrentamos estereótipos, preconceitos e resistências. É comum ouvir comentários sobre a idade, o tom de voz, a forma de vestir, ou até sobre a “firmeza” com que falamos. Se, por um lado, isso pode ser desgastante, por outro foi o que me moldou para exercer uma advocacia com ainda mais convicção, assente em valores que não abro mão: lealdade, justiça, honestidade, liberdade e empatia.

Na sua opinião, de que maneira um escritório de advocacia pode inovar, seja na forma de atender, gerir processos ou até se posicionar no mercado?
O caminho até aqui foi feito de escolhas conscientes e de uma busca constante por tornar o Direito mais humano. Trabalho diariamente em três grandes áreas: Direito do Consumo, Direito do Trabalho e Direito da Família. Todas elas têm algo em comum — lidam com vulnerabilidades, com situações em que o equilíbrio de forças não é evidente. E é nesse espaço que encontro sentido: dar voz a quem precisa, esclarecer quem está perdido, criar pontes onde parecia haver apenas muros.

Costuma dizer que ama o que faz e faz o que ama. Como essa filosofia de vida influencia a forma como inspira a sua equipa e motiva outras mulheres a acreditarem nos seus sonhos?
Enquanto mulher na advocacia, acredito que a nossa presença trouxe ao Direito uma redefinição do que significa “liderar”. Liderar não é apenas ocupar cargos ou assinar decisões; é criar impacto real, transformar contextos e abrir caminho para que outros possam seguir. Nós, mulheres, trazemos uma forma de liderança que não é apenas hierárquica, mas relacional, colaborativa e, acima de tudo, consciente. É uma liderança que entende que o sucesso não se mede apenas em vitórias processuais, mas também na capacidade de transformar a vida de quem nos procura.
Quais estratégias considera fundamentais para que uma advogada, além de técnica e competente, se torne também uma líder inspiradora e inovadora?
A liderança feminina na advocacia tem vindo a ganhar espaço porque deixámos de nos contentar em “estar presentes”. Queremos mais do que ocupar lugares: queremos transformá-los. Queremos redefinir o que significa sucesso no Direito. Para mim, sucesso não é ter uma estante cheia de processos ganhos, mas sim ver pessoas e negócios mais conscientes, mais protegidos e mais livres depois de passarem pelo meu caminho.

Apaixonar-se pelo Direito é uma força, mas a profissão também exige pragmatismo. Como equilibra o entusiasmo com a objetividade necessária na advocacia?
Pessoalmente, vejo o meu papel como o de alguém que abre espaço para conversas necessárias. Quero que quem me ouve ou lê perceba que o Direito não está distante, que pode e deve ser compreendido. E quero que, sobretudo as mulheres, sintam que têm direito à informação, à proteção e ao respeito. Se há algo que a advocacia tem de acrescentar ao mundo jurídico, é exatamente esta capacidade de unir técnica e humanidade.

Que mensagem gostaria de transmitir às jovens advogadas que a olham como exemplo e que sonham criar a sua própria marca ou escritório?
No fundo, acredito que a presença das mulheres na advocacia não é apenas uma questão de números, mas de impacto. Cada vez que uma Advogada lidera um processo, uma equipa, um projeto ou uma mudança, está a mostrar que o Direito não precisa de ser rígido, fechado ou inatingível. Pode ser claro, justo e, acima de tudo, humano.

Como gostaria que o Coimbra e Tavares Advogados e a sua própria trajetória profissional fossem lembrados no futuro: como advogada, empreendedora ou sobretudo como uma mulher que inspirou outras a acreditar em si mesmas?
E é exatamente isso que quero continuar a fazer: descomplicar o Direito, humanizar a advocacia e mostrar que, sim, a liderança feminina redefine o sucesso — porque o sucesso, no fim de contas, é medido pelo impacto que deixamos nos outros.


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