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“Escolhe o que te faz sentir viva de Verdade”


Há histórias que nos fazem abrandar. Outras que nos despertam. E depois há histórias como a de Sandra Pereira, Fundadora da Épicas Hub, que nos lembram que o propósito não tem prazo de validade — e que, às vezes, a resposta que procuramos há anos só chega quando temos coragem de olhar verdadeiramente para dentro. “Durante muitos anos não fazia ideia de qual era o meu propósito. Descobri-o aos 43, depois de uma fase intensa de autoconhecimento que, hoje vejo, foi fundamental para perceber o que realmente me move”, confessa a nossa interlocutora, com a serenidade de quem transformou dúvidas antigas em força criativa.
O resultado dessa descoberta? Um projeto que inspira pessoas e empresas a desbloquearem o seu potencial e a viverem com mais consciência, intenção e impacto. Nesta conversa, mergulhamos na jornada de uma Mulher que decidiu reescrever a própria narrativa — e que agora ajuda outros a fazer o mesmo. Prepare-se para uma entrevista que provoca, inspira e nos lembra que é sempre tempo de começar.

Quando é que decidiu empreender depois dos 50 e qual foi o momento de viragem que transformou uma inquietação interna numa verdadeira convocação para criar a Épicas Hub?
Sempre quis empreender. O que eu não sabia era como. Cresci numa família materna onde quase toda a gente era empreendedora. Os meus avós foram a minha grande referência. A minha avó então foi uma força da natureza. Uma mulher de armas. A primeira mulher em Lisboa a tirar a carta de pesados e a segunda em Portugal, há mais de 60 anos. Visionária, empreendedora e empresária. Ela deixou-me a semente do empreendedorismo. Corre-me nas veias esta vontade de seguir os seus passos e, acima de tudo, deixar um legado como o que ela me deixou.
Empreender só aconteceu para mim depois dos 50. E percebo hoje que foi no momento certo. Antes disso não estaria preparada psicologicamente para todos os desafios que este caminho exige. Também já não conseguia viver em modo automático. Sentia que uma parte de mim estava por preencher. Uma vontade antiga, um desejo silencioso, um sonho que sempre me acompanhou. Olhava para tudo o que já tinha conquistado e ainda assim existia um vazio estranho, difícil de explicar.
E não era só eu. Via tantas mulheres à minha volta a viverem esse mesmo vazio, também elas em silêncio. Todas a tentar ser fortes. Todas a carregar o mundo às costas. Todas a achar que era normal sentir isto.
Foi aí que me caiu a ficha. A minha inquietação não era só minha. Era nossa. O que eu estava a sentir não era um problema. Era um chamado.
A Épicas Hub nasce desse lugar. Dessa convocação profunda. Da certeza de que está na hora de deixarmos de sobreviver e começarmos a viver com propósito.

Muitas pessoas sentem que “já vão tarde” para começar algo novo. Como é que a sua experiência acumulada — profissional e de vida — se tornou, na prática, a sua maior vantagem competitiva?
Aquilo que antes eu via como peso — anos de trabalho, desafios, mudanças, erros, recomeços — transformou-se na minha maior vantagem. A experiência dá-me visão, dá-me clareza e dá-me uma capacidade de resolução que não se aprende em lado nenhum. Aos 50 já sei ler pessoas, ambientes e emoções. Sei o que funciona e sei o que me faz perder tempo. A maturidade não acelera só decisões. Aprofunda-as. E isso vale ouro quando empreendemos.
E deixo este recado a quem precisa de o ouvir. Nunca é tarde para começar algo novo. Pode ser agora, pode ser para o ano, pode ser daqui a 10 anos. Se existe vontade, então o momento certo é o mais cedo possível. Não vale a pena adiar o que é inadiável. Mais cedo ou mais tarde vamos sempre dar o passo. Por isso que seja agora. Quanto mais rápido errarmos, mais rápido crescemos. E quanto mais rápido crescemos, mais depressa chegamos ao lugar onde já devíamos estar.

Qual foi o medo mais difícil de enfrentar — o medo de falhar, o medo do julgamento ou o medo de não ter tempo suficiente — e como o transformou em motor de ação?
É um bocadinho de todos, diria eu. Mas o medo mais difícil sempre foi o medo do julgamento. Não o julgamento dos outros. O meu. Sou muito crítica comigo mesma. Estou sempre a questionar-me. E se eu não tiver o que é preciso? E se eu não for boa o suficiente? E se eu não for capaz?
A forma como transformei isto foi direta. Decidi que preferia falhar a arrepender-me. Este passou a ser o meu lema. Prefiro arrepender-me de algo que fiz do que de algo que não fiz. E quando percebi isto, entendi outra coisa importante. O medo não desaparece. Ele anda connosco. Mas quando sigo mesmo assim, ele deixa de mandar em mim.
Hoje sei que é um processo. Ter medo faz parte. Crescer dói. Expandir assusta. E é mesmo assim que tem de ser. O que não me desafia, não me transforma.

Empreender depois dos 50 exige uma redefinição de propósito. Que perguntas fundamentais teve de fazer a si própria para alinhar o seu propósito com o modelo da Épicas Hub?
Durante muitos anos não fazia ideia de qual era o meu propósito. Descobri-o aos 43, depois de uma fase intensa de autoconhecimento que, hoje vejo, foi fundamental para perceber o que realmente me move. Fiz-me perguntas difíceis. O que é que me faz sentir viva? Qual é o meu propósito? Que legado quero deixar para a geração que vem a seguir?
Sabia, pela minha própria história, que podia transformar a vida de outras mulheres. Sabia também que havia um motivo maior para eu sentir este chamado. O mundo precisava de um projeto como este. E quando finalmente respondi a tudo isto sem filtros, a visão da Épicas Hub tornou-se evidente. Criar um espaço onde as mulheres pudessem reencontrar-se, reinventar-se e resgatar a sua potência.

Se pudesse escolher apenas uma competência que trouxe da sua trajetória antes dos 50 e que hoje é indispensável para liderar a Épicas Hub, qual seria e porquê?
A resiliência. Não aquela que romantiza o sofrimento, mas a que me ensinou a levantar, ajustar e seguir. A resiliência permite-me olhar para o caos e ainda assim encontrar caminho. É o músculo mais valioso que trago da minha história.

Que obstáculos encontrou no ecossistema empreendedor que revelaram preconceitos etários — explícitos ou subtis — e como os ultrapassou?
Encontrei preconceitos e ouvi muitas vezes aquela frase irritante. Isso é para jovens. Também ouvi que as mulheres mais velhas não são público digital. Ou que tecnologia e maturidade não combinam. O que fiz foi simples. Provei o contrário. Mostrei dados, mostrei resultados, mostrei crescimento. Usei o meu próprio público como prova viva. Mulheres potentes, conectadas, curiosas e mais atentas do que muita gente imagina. E continuei. A consistência derrota preconceitos.

A coragem é muitas vezes romantizada, mas na realidade nasce de rituais diários e microdecisões. Há algum hábito, rotina ou prática que considera essencial para manter a coragem viva?
Sim. Todos os dias faço uma pergunta simples. O que é que eu posso fazer hoje que me aproxima do meu propósito? Não importa se é grande ou pequeno. Esta pergunta mantém-me alinhada. A coragem cresce no alinhamento, não na perfeição.
Quando tenho um desafio que não sei resolver, procuro soluções e adapto-me. O desconhecido assusta, claro. Mas também transforma. É ele que nos faz evoluir. Se não o enfrentarmos, estagnamos. E para isso é preciso coragem. Muita coragem para fazer escolhas sem garantias, para dar passos que não sabemos se serão certos ou errados. O mais difícil é sempre o primeiro passo. Depois percebemos, muitas vezes, que estávamos certas e que valeu a pena avançar.
Pratico outros rituais que me fortalecem. A gratidão pelas pequenas conquistas, olhar para trás e celebrar. E o journaling, onde manifesto gratidão, positividade, sucesso e abundância. São práticas simples, mas mantêm-me focada, presente e cada vez mais corajosa. 

Como olha para a relação entre experiência e inovação? A experiência facilita a inovação — ou obriga-nos a desaprender primeiro?
A experiência facilita a inovação quando deixo de me agarrar ao que funcionou e fico disponível para o que pode funcionar agora. Às vezes é preciso desaprender, sim. Mas a maturidade dá-me a sabedoria para saber o que vale a pena desaprender e o que vale a pena guardar.

A Épicas Hub fala muito sobre criar impacto. Na sua visão, que tipo de impacto específico só um(a) empreendedor(a) 50+ consegue gerar, e que muitas vezes passa despercebido?
O impacto da verdade. Aos 50 tenho uma profundidade que não se finge. Trago histórias, cicatrizes e conquistas que hoje se transformam em serviço. Tenho a capacidade de criar soluções com empatia real. E tenho também uma visão longa. Não quero só vender. Quero deixar legado. Este impacto pode ser silencioso, mas é imenso.

Se pudesse deixar uma mensagem para quem está nos 50, 60 ou mais e sente que tem “um capítulo por escrever”, que verdade gostaria que essa pessoa ouvisse — e acreditasse?
Diria isto. Tu não estás atrasada. Estás exatamente no momento em que tens maturidade para criar algo verdadeiro e coragem para te escolher. O teu próximo capítulo não precisa de ser perfeito. Precisa de ser teu. E quando começas, mesmo com medo, a vida abre espaço.
Acredita em ti. Não deixes que vozes externas decidam o teu caminho. Segue o teu instinto. Segue o teu propósito. Escolhe o que te faz sentir viva de verdade. E se precisares de apoio, sabes onde me encontrar.


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