Saúde Mental em contexto organizacional
Ao longo dos anos, todos os contextos de trabalho se revelaram exigentes à sua maneira, com os seus constantes desafios para o ser humano. No entanto, vivemos hoje um dos períodos mais desafiantes para a nossa saúde mental, mais concretamente os relativos à nossa saúde psicológica no trabalho, associado ao aumento dos fatores de risco:
- Trabalhos mentalmente mais exigentes, com elevada pressão para o sucesso e escasso espaço para a falha “construtiva”;
- Famílias com menos tempo para os filhos e para as rotinas domésticas;
- Tecnologias em constante evolução, que facilmente geram sentimentos de desatualização e insegurança face a gerações mais jovens;
- Turnos rotativos e grande volume de tarefas e desafios, com impacto no sono e no equilíbrio entre a vida profissional e pessoal;
- Instabilidade organizacional, com mudanças e reestruturações constantes.
Aliado às condicionantes do contexto, temos a cultura interna de cada empresa, que nem sempre favorece um ambiente saudável. É inegável o impacto negativo para a saúde mental de locais de trabalho onde imperem níveis elevados de stress, más lideranças, ausência de comunicação eficaz e reconhecimento.
Apesar de muitas empresas terem vindo a adotar campanhas em torno do bem-estar dos colaboradores, estas iniciativas são frequentemente mais simbólicas do que estruturais. Aparentam valorizar as “Pessoas”, mas na pática continuam a reproduzir dinâmicas tóxicas: liderança pouco empática, prazos irrealistas, ausência de autonomia, competição desmedida. Resultado? Colaboradores atraídos por promessas de um bom ambiente de trabalho, mas rapidamente confrontados com uma realidade frustrante e muitas vezes incapacitante.
Mais do que oferecer sessões de psicologia avulsas, é fundamental investir em Programas de Saúde Mental estruturados, pensados à medida de cada organização. O primeiro passo deve ser um diagnóstico rigoroso dos riscos psicossociais e das dificuldades existentes, seguido da definição de um plano de ação com metas claras e avaliação contínua. É impossível eliminar toda a pressão do contexto atual, mais é perfeitamente viável reduzi-la, através de boas práticas que promovam segurança, escuta e adaptação às necessidades dos colaboradores.
Algumas ações concretas para locais de trabalho saudáveis, possíveis de implementar nas empresas (OPP, 2025):
- Fomentar a conversa aberta sobre saúde psicológica, com formações e momentos de partilha;
- Tornar a Saúde Psicológica e o bem-estar objetivos da Organização, incorporando-os nos valores e indicadores organizacionais, e tendo-os em consideração nas decisões estratégicas da empresa;
- Desenvolver capacidades de liderança e de gestão de recursos humanos alinhados com estas práticas;
- Recompensar os líderes por manterem uma local de trabalho saudável;
- Promover uma abordagem de tolerância zero relativamente ao estigma e à discriminação;
- Garantir condições de trabalho flexíveis e promotoras de bem-estar, e desmistificar o conceito muito enraizado de que trabalhar mais horas é produtivo;
- Criar dinâmicas para que os colaboradores se conheçam para além daquilo que é o contexto profissional e para fomentar o bom relacionamento interpessoal nas equipas;
- Promover o desenvolvimento de competências que permitam a ascensão e desenvolvimento de carreira;
- Incentivar o autocuidado dos colaboradores.
Quando os próprios gestores assumem o compromisso de criar uma cultura organizacional segura e respeitosa, as suas equipas seguem-nos como exemplo, tornando as equipas mais resilientes, com melhor capacidade de resolução de conflitos, menor absentismo e maior produtividade.
A promoção de ambientes (genuinamente) saudáveis não é apenas uma responsabilidade ética – é também uma estratégia inteligente e sustentável para organizações que pretendem crescer com as suas pessoas, e não à custa delas.
Rita Silva, Psicóloga e CEO da Psicocarreira