“Sou hoje uma Mulher com Voz”

No momento em que iniciava este Artigo, não pude deixar de pensar como é significativo atribuir a um prémio o título “Grito de Mujer”. É gratificante constatar que, paulatinamente, a Mulher tem vindo a conquistar, dolorosa e combativamente, um espaço onde vai sendo tido em conta o seu grito de dor, o seu grito de raiva, o seu grito de prazer, o seu grito pelo direito a gritar, mercê de uma luta contra preconceitos e impedimentos que foram sendo minimizados pela demonstração inequívoca do seu valor, da sua magnanimidade, do seu conhecimento, do seu profissionalismo.
Em toda a História da Humanidade não foram poucos os momentos em que a voz da Mulher foi ignorada, desprezada, manipulada, banida, maltratada, silenciada, despojada. Se bem que a sua luta empenhada tenha, já, laivos de conquista, ainda hoje, há, por esse mundo fora, Mulheres a clamarem pelos seus direitos, a elevarem a voz quando lhes querem retirar o que, esforçadamente, conquistaram, a exigirem igualdade, liberdade. Há, também, Mulheres que foram espoliadas do seu direito a um espaço público de fala, de trabalho, de percorrer, livremente, o seu caminho.
Graças a todas as Mulheres que gritaram pela liberdade antes de eu nascer, sou hoje uma Mulher com voz, porque cresci num país que, após o 25 de Abril, lhes abriu espaço de escolha livre, de expressão e liderança. Decidi que o meu caminho passaria por menorizar a indiferença e a ignorância, que atinge 122 milhões de meninas em todo o mundo (UNESCO, 2023), e promover gritos de alegria, através da Educação. Porque uma menina com acesso à Educação será, futuramente, uma Mulher que se sente afortunada, empoderada, florescente.
Comungando desse ideal, decidi fundar em 2005 a AIDGLOBAL – Acção e Integração para o Desenvolvimento Global, uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), sem fins lucrativos. Desde então, eu e as minhas equipas, em Portugal e em Moçambique, temos procurado dar o melhor de nós, em prol de um mundo mais justo, igualitário e sustentável, entendendo, desde sempre, que a melhor via possível é através do incentivo, da promoção e da melhoria da Educação. É indubitável que a Educação desempenha um papel-chave na sociedade.
Trabalhar com crianças e jovens questões relacionadas com os Direitos Humanos, com a equidade, a violência, as desigualdades que afetam, determinantemente, as meninas e as Mulheres, tem sido, entre tantas iniciativas e projetos, o foco do nosso trabalho na área da Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global, em Portugal. Em Moçambique, promovemos a literacia, através do acesso ao livro, tendo já criado 32 bibliotecas escolares, a par da oferta de serviços de Educação para a Primeira Infância, em comunidades rurais, com a aposta numa educação bilingue, com o lançamento de livros de literatura infantil, criados, para a nossa Organização, por escritores e ilustradores moçambicanos, em língua portuguesa e XiChangane, um dos idiomas de Moçambique.
Milhares de crianças e jovens têm beneficiado do trabalho da AIDGLOBAL, graças a todas as Mulheres que procuraram a nossa Organização para serem ativistas e profissionais do saber, do progresso, do humanismo, as quais incentivamos e preparamos, engrandecendo as suas competências e capacidades para o bem comum, capazes de corresponderem aos imperativos e validação dos financiadores e doadores. Orgulhamo-nos de constatar que a comunidade internacional tem vindo a acreditar no nosso desempenho e contributo, convidando-nos a integrar projetos deste âmbito.
Em 2019, o Círculo de Escritores Moçambicano Diáspora e o Festival Internacional de Poesia y Arte Grito de Mujer reconheceram o mérito do meu trabalho, na liderança da AIDGLOBAL. É e será, sempre, uma honra ver valorizado o nosso empenhamento no Activismo e Solidariedade Social. Acreditamos na continuidade do nosso trabalho e no contributo para a criação um lugar onde ecoem cânticos do respeito e valorização das meninas, raparigas e mulheres.
Susana Damasceno, Presidente da Direção e Diretora Executiva · AIDGLOBAL - Acção e Integração para o Desenvolvimento Global