“A Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa, mas não substitui o fator humano”

Maria Isabel Costa, CEO da STAR – Serviços Linguísticos, Lda, não tem qualquer dúvida. “Ser um bom tradutor exige competências que vão muito para além do domínio das línguas de partida e de chegada que, claro, é indispensável”. Estivemos à conversa com a nossa entrevistada, sendo, entre outros pontos, que abordamos o impacto da Inovação da Digitalização no universo da Tradução.
A STAR – Serviços Linguísticos em Portugal foi edificada por volta dos anos 2000, mais concretamente em 2006. Que balanço é possível perpetuar destas quase duas décadas de atuação em Portugal e quais são as valias que promove pelo facto de pertencer ao Star Group, marca fundada em 1984 na Suíça?
Nestas quase duas décadas, a STAR – Serviços Linguísticos tem conseguido consolidar a sua posição no mercado como uma referência na tradução, com uma forte aposta na qualidade, na especialização e na proximidade com os clientes. O facto de fazermos parte do STAR Group, que conta com mais de 30 associadas em todo o mundo, dá-nos efetivamente uma vantagem competitiva muito relevante, nomeadamente o acesso a ferramentas tecnológicas próprias, como o Transit NXT, a nossa CAT por excelência, o Termstar, mas também o GRIPS, um programa de gestão da informação, o CLM para a gestão de projetos, para referir apenas algumas. Com o STAR Group, integramos uma rede global de especialistas em várias áreas o que nos dá a possibilidade de oferecer uma grande diversidade de combinações linguísticas. Esta ligação internacional permite criar sinergias com outras associadas com experiências diferentes das nossas, uniformizar processos com a consequente garantia de qualidade, além de, em conjunto, podermos antecipar as melhores respostas às evoluções do setor.
Quando é que assumiu a liderança da marca e como é que a sua carreira se cruza com esta área da linguística e da tradução?
A STAR – Serviços Linguísticos foi fundada por mim e sou sócia-gerente desde o início da atividade. A minha chegada ao STAR Group aconteceu por convite. O Grupo tinha conquistado um cliente francês do ramo automóvel muito importante e, na altura, eu trabalhava no departamento de tradução do importador da marca. Foi-me, então, lançado o desafio de criar uma empresa de tradução que se ocuparia, numa primeira fase, exclusiva e especificamente desse cliente. Sempre fui muito curiosa e uma apaixonada pelo poder transformador da linguagem e pela comunicação interlinguística, por isso, aceitar o convite do STAR Group foi um passo natural na minha trajetória. E continuo muito satisfeita com a decisão que tomei.
É legítimo afirmar que para se ser um bom tradutor não basta conhecer bem as línguas de partida e de chegada do texto que tem em mãos? De que forma é que na STAR – Serviços Linguísticos todos os profissionais seguem esta máxima e, fruto das suas capacidades e conhecimentos, perpetuam a diferença perante o mercado e os clientes?
Totalmente legítimo! Ser um bom tradutor exige competências que vão muito para além do domínio das línguas de partida e de chegada que, claro, é indispensável. Compreensão cultural, especialização em determinadas áreas de conhecimento e o domínio de ferramentas de apoio à tradução, as chamadas CAT, são fundamentais. Na STAR, investimos continuamente na formação dos nossos profissionais, garantindo que estão preparados para oferecer serviços de excelência adaptados às necessidades dos clientes.
Do seu know how e experiência, como é que analisa a vertente da tradução? Sente que hoje é um setor mais respeitado e fundamental para a obtenção de resultados positivos?
Bem, baseada na minha experiência, vejo a tradução como uma vertente estratégica, cada vez mais valorizada num mundo cada vez mais global. Creio ser do entendimento geral, que, mais do que passar simplesmente palavras de um idioma para outro, se exige ao tradutor que garanta a mensagem, o tom e que os objetivos de comunicação sejam mantidos com precisão e sensibilidade cultural.
A crescente internacionalização dos negócios e o foco na experiência do cliente tornaram a tradução essencial para o sucesso das empresas.
Na minha opinião, há hoje um respeito crescente e diferente pela profissão, especialmente quando se reconhece o impacto direto que uma boa tradução pode ter em negociações, na expansão de um mercado e na credibilidade de uma marca. A meu ver, o setor ganhou visibilidade e demonstra, cada vez mais, ser um fator incontornável para a obtenção de resultados positivos em contextos multilíngues e multiculturais.
A verdade é que atualmente vivemos numa era da globalização, algo que, entre outros, fez emergir a Tradução como um setor relevante e de enorme responsabilidade. Sente que em Portugal estamos bem preparados do ponto de vista formativo e académico para responder às exigências da Tradução?
Portugal tem universidades e instituições formativas de excelência na área da tradução, mas ainda há espaço para aperfeiçoar a formação prática e a integração de tecnologias emergentes. A colaboração entre instituições académicas e empresas do setor é essencial para preparar os futuros profissionais para as exigências do mercado. Faço parte do Conselho Consultivo do ISCAP (Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto) e, por isso, falo com propriedade quando digo que conheço bem a preocupação das instituições académicas e o quanto é importante esta interação.
O orçamento/preço ainda é o que conta verdadeiramente nesta área? Como é que a STAR – Serviços Linguísticos contorna esse detrimento da qualidade em prol do preço?
O fator preço continua a ser determinante, isso é inegável. Na STAR privilegiamos o equilíbrio entre qualidade, preço e custo da tradução. Utilizamos processos eficientes e tecnologias inovadoras para otimizar o trabalho dos tradutores, garantindo preços tão competitivos quanto possível sem nunca comprometer o rigor do trabalho entregue ao cliente, seja ele de tradução, legendagem, interpretação ou outro, nem a viabilidade da empresa.
Vivemos na era da digitalização, onde, por exemplo, assistimos ao crescimento em massa da Inteligência Artificial e outras. Pode a Tradução estar em risco face ao crescimento da IA?
A Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa, mas não substitui o fator humano. A precisão, a compreensão do contexto e a sensibilidade cultural continuam a exigir a intervenção do tradutor experiente e não me parece que a máquina tradutora consiga substituí-lo por completo, pelo menos a curto e a médio prazo.
Podemos confiar na IA no setor da Tradução ou é possível e imprescindível que exista uma complementaridade entre a Inovação e a vertente Humana (tradutor/a)?
Na minha opinião, esse é o caminho ideal: a complementaridade. Sim, a IA pode auxiliar na rapidez, na consistência, mas a qualidade final, essa, sem dúvida que depende da “mão” humana.
A formação no setor da Tradução continua a ser essencial para promover qualidade e excelência dos serviços prestados? Qual o papel da STAR – Serviços Linguísticos nesta ligação com a formação?
A formação contínua é essencial e importante para podermos contar com bons profissionais e garantir que estão preparados para os desafios do nosso setor de atividade.
A finalizar, quais são os grandes desafios que se colocam à Tradução e à STAR – Serviços Linguísticos?
Creio que, com uma ou outra diferença, os mesmos que se colocam a muitos outros setores: acompanhar o ritmo acelerado da transformação digital, sem comprometer a qualidade e a precisão que o mercado exige… Que o mercado exige e que os bons profissionais exigem a si próprios.
A integração de tecnologias como a inteligência artificial e a tradução automática traz oportunidades, mas também impõe a necessidade de um equilíbrio cuidadoso e vigilante entre a eficiência da máquina e a excelência humana.
Para a STAR – Serviços Linguísticos, o desafio está em continuar a oferecer soluções linguísticas personalizadas, tecnicamente rigorosas e culturalmente adequadas, mantendo a confiança dos clientes. Além disso, é crucial investir continuamente na formação das equipas, na inovação tecnológica e na adaptação a novos modelos de trabalho.
O nosso compromisso é nunca perder o foco na qualidade, na ética profissional e na construção de parcerias duradouras.