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“O Coaching tem um papel cada vez mais Estratégico nas Organizações”


Num mundo corporativo em que produtividade e resultados muitas vezes parecem competir com bem-estar e humanidade, há profissionais que redefinem o conceito de liderança e desenvolvimento pessoal. Ana Pinto Coelho, Founder & CEO da InsightOut Coach PCC, é uma dessas vozes transformadoras, trazendo ao coaching uma visão que une desempenho e humanidade.
“Acredito profundamente que o futuro do coaching passa por ajudar as empresas a integrar desempenho e humanidade — não a colocá-los em oposição. É esta a visão que defendo e que, todos os dias, tenho o privilégio de pôr em prática com os meus clientes.””, revela.
Nesta entrevista, partilha estratégias, reflexões e experiências que mostram como é possível alcançar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sem sacrificar o crescimento individual ou o sucesso organizacional. Uma conversa que promete inspirar líderes, colaboradores e todos aqueles que acreditam que o trabalho pode ser feito com excelência e empatia ao mesmo tempo.

A InsightOut tem como missão ajudar indivíduos e equipas a realizarem o seu potencial máximo. Na sua visão, qual é hoje o maior desafio que impede as pessoas de encontrarem um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional? 
Hoje, o maior desafio é a falta de presença. Vivemos num contexto onde a atenção é constantemente fragmentada, e isso impede as pessoas de estarem verdadeiramente ligadas a si mesmas e aos outros. Quando não paramos para ouvir as nossas necessidades — emocionais, físicas ou relacionais — acabamos por entrar em piloto automático. O desequilíbrio nasce muitas vezes dessa desconexão interna, mais do que da quantidade de trabalho em si. O desafio não é apenas gerir o tempo, mas sobretudo gerir a nossa energia, as nossas prioridades e o sentido que queremos dar à vida.

Enquanto coach e mentora, o que observa mais frequentemente: excesso de foco no trabalho ou falta de clareza nos objetivos pessoais? Como é que estes dois desequilíbrios se manifestam no dia a dia das pessoas? 
Vejo ambos com muita frequência, mas a raiz comum é a falta de clareza interna. Quem não está claro sobre o que realmente quer — e sobre o que verdadeiramente valoriza — tende a compensar com excesso de foco no trabalho, porque o trabalho oferece métricas, estrutura e reconhecimento. Isto manifesta-se no dia a dia através de: - dificuldade em desligar mentalmente, mesmo fora do horário profissional; - sensação constante de urgência ou pressão; - dificuldade em definir limites saudáveis; - irritabilidade, fadiga e perda de entusiasmo; - burnout - e, muitas vezes, um afastamento gradual das relações e de atividades pessoais significativas. Quando a vida pessoal não está clara, a vida profissional tende a ocupar todo o espaço disponível.

Nos seus programas de coaching, que práticas ou ferramentas têm mostrado resultados mais consistentes quando o objetivo é restabelecer um sentido de equilíbrio na vida dos seus coachees? 
Primeiro que tudo o nosso cliente (coachee), tem que querer mudar e ter essa vontade de restabelecer um sentido de equilíbrio para a sua vida. Só assim, estão criadas as condições base para se fazer coaching. Na minha opinião, um programa de coaching, que combina o autoconhecimento profundo com aplicabilidade prática, é um modelo que uso bastante e que tenho visto bons resultados. Mais do que ferramentas, o maior impacto surge quando a pessoa recupera o direito de ser a protagonista das suas escolhas- refletir sobre si, sobre os seus planos de ação em vez de reagir ao ritmo externo. Ser o verdadeiro protagonista da sua vida e “agarrar” a vida por inteiro, e muitas vezes nas sessões as pessoas acabam por ter esse espaço mental de reflexão, aceder a outros patamares e ter os insights que ajudam a ver/entender e ganhar diferentes perspetivas da sua realidade. É aqui que o coaching revela o seu verdadeiro poder transformador. Ter este privilégio de acompanhar as pessoas nesta reflexão, desafiando-as, fazendo perguntas poderosas e transformar crenças em possibilidades é o papel do coach.

Vivemos numa era de alta exigência, hiperconectividade e ritmos acelerados. Como é que, no seu ponto de vista, estas pressões estão a transformar a forma como encaramos o conceito de “vida equilibrada”? 
Estamos a passar de uma visão tradicional de equilíbrio — quase matemática — para um equilíbrio dinâmico e adaptativo. Hoje, a fronteira entre vida pessoal e profissional tornou-se mais fluida, e isso exige novas competências: maior autorregulação, maior consciência emocional, definição de limites e uma relação saudável com a tecnologia. A hiperconectividade traz também novas oportunidades, mas também a expectativa implícita de disponibilidade constante. O equilíbrio, hoje, é menos sobre separar “caixas” e mais sobre cultivar uma integração saudável: como posso ser eu mesma em todos os espaços, sem me perder? Voltamos ao grande desafio da presença- da qualidade da nossa presença, da escuta ativa, do sentir e estar.

Muitos líderes e gestores sentem que sacrificar a vida pessoal “faz parte do cargo”. De que forma o coaching pode desconstruir esta ideia e promover um estilo de liderança mais sustentável e humano? 
O coaching ajuda líderes a perceberem que alto desempenho sustentável não nasce do sacrifício, mas da inteligência emocional e da saúde integral. Quando um líder acredita que precisa abdicar da sua vida pessoal para ter resultados, está a perpetuar um modelo antiquado de liderança — um modelo que já não responde às necessidades humanas nem organizacionais. Através do coaching, damos “novas ferramentas” aos líderes, as competências de coaching skills. O que isso significa? 
• ganhar maior gestão emocional e autoconsciência; 
• ter um estilo de liderança mais humano e colaborativo; 
• modelar comportamentos saudáveis para as suas equipas. 
• Presença, escuta, desafiar sentido critico 
• Promovendo assim autonomia, segurança psicológica, motivação e retenção das equipas. Um líder que se cuida inspira equipas mais equilibradas, mais criativas e mais resilientes. E principalmente hoje em dia, com as novas gerações é crítico que o líder seja um “lider coach” para conseguir motivar, reter e inspirar as novas gerações.

Equilíbrio não significa 50/50. Como define, enquanto especialista, o verdadeiro significado de um equilíbrio saudável e adaptado a cada pessoa? 
Equilíbrio saudável varia muito é um estado em que a pessoa sente que está alinhada com quem é e com o que valoriza. É profundamente pessoal, flexível e contextual. Para mim, por exemplo, equilíbrio é: 
• ter espaço para o que me dá energia; 
• sentir coerência entre o que faço e o que acredito; 
• poder ajustar o ritmo quando a vida o pede; 
• e estar presente, em vez de apenas cumprir. Não é uma divisão rígida do tempo, mas uma sensação contínua de intencionalidade, coerência, bem-estar e claro está presença.

Com a crescente procura por bem-estar e desenvolvimento pessoal, como imagina o futuro do coaching na criação de culturas organizacionais que promovam verdadeiramente o equilíbrio entre o desempenho e a qualidade de vida? 
O coaching tem um papel cada vez mais estratégico nas organizações. Acredito que, no futuro, será visto não como um “benefício adicional”, mas como um pilar de cultura. Felizmente, temos muitos e bons exemplos de empresas em Portugal que já estão a fazer essa transição organizacional. Vejo o coaching a contribuir cada vez mais para Organizações mais humanas e respeitadoras do ritmo das pessoas; os líderes estão cada vez mais conscientes, empáticos e preparados para a liderança, decisões éticas e para o seu papel nas Organizações; equipas que valorizam a segurança psicológica, a colaboração e a aprendizagem; as organizações que percebem que bem-estar não é um “extra”, é uma condição para resultados consistentes. O futuro do coaching passa por ajudar as empresas a integrar desempenho e humanidade numa visão mais consciente, sustentável e humana de trabalho. É esta a visão que defendo e que, todos os dias, tenho o privilégio de pôr em prática com os meus clientes.”

Se pudesse deixar apenas uma mensagem ou prática essencial para quem sente que está a perder o rumo entre carreira e vida pessoal, qual seria e porquê?
A mensagem que deixaria é simples: permite-te parar e ouvir-te. Antes de mudares algo fora, começa por criar espaço dentro. Pergunta-te: “O que realmente preciso neste momento?” e “O que estou a ignorar em mim?” Nenhuma mudança sustentável vem da pressa ou da culpa. Vem da coragem de voltar a casa — a ti mesmo — para recuperares clareza, propósito e direção. Equilíbrio não é um ponto final. É um caminho que se ajusta, se aprende, se descobre — e sim, dá trabalho…mas vale muito a pena

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