“A Liderança Feminina tende a valorizar mais a escuta ativa”
Com uma visão clara e uma liderança marcada pela empatia e pela transparência, Raquel Silva, Gerente Executiva da Corbroker Norte, partilhou com a Business Voice a sua perspetiva sobre o papel das mulheres no setor dos seguros — um universo em constante evolução e cada vez mais aberto à diversidade. “Na Corbroker Norte, tenho procurado cultivar uma cultura de transparência e proximidade, onde todos se sentem parte do propósito comum”, revela Raquel Silva, destacando o valor humano como pilar essencial para o sucesso da organização e para o equilíbrio dentro de uma área historicamente dominada por homens. Nesta conversa inspiradora, a nossa interlocutora, aborda os desafios, as conquistas e a importância de promover ambientes de trabalho inclusivos, onde o talento e a dedicação não têm género.
No sentido de contextualizar o nosso leitor, como analisa a sua trajetória até chegar à posição de Gerente Executiva na Corbroker Norte? Quais foram os momentos-chave que a definiram como líder?
A minha trajetória na Corbroker Norte tem sido marcada por um percurso de dedicação, aprendizagem e crescimento conjunto com a equipa. Desde o início, percebi que o sucesso neste setor depende, acima de tudo, das pessoas — da forma como trabalhamos em conjunto, partilhamos conhecimento e nos desafiamos mutuamente a fazer melhor todos os dias, com dinamismo e foco no que o cliente precisa e valoriza.
Comecei com funções mais operacionais, o que me deu uma compreensão muito concreta do negócio e das necessidades dos clientes. Com o tempo, fui assumindo novas responsabilidades que exigiram visão estratégica e capacidade de motivar a equipa em diferentes contextos.
Os momentos-chave foram sempre aqueles em que o trabalho coletivo fez a diferença, quando a equipa alinhada e comprometida conseguiu alcançar objetivos ambiciosos ou superar obstáculos inesperados. Esses episódios consolidaram a minha convicção de que liderar passa por servir — criar condições para que a equipa possa dar o melhor de si, num ambiente de confiança, respeito e foco.
O que a inspirou a seguir uma carreira no setor de seguros, e como a sua visão pessoal contribuiu para o seu crescimento profissional?
A minha entrada no setor de seguros aconteceu de forma casual, ainda na faculdade, através de um part-time que surgiu como uma oportunidade de ganhar experiência profissional no setor financeiro. Como acontece com muitos jovens, não era uma área que eu tivesse considerado como a preferencial para desenvolver o meu percurso profissional, acredito que o setor ainda mantêm o desafio de se tornar mais atrativo para as novas gerações.
No entanto, rapidamente percebi que os seguros têm um impacto decisivo no mundo empresarial. Trabalhar nesta área é muito mais do que vender um produto — é compreender os riscos do negócio do cliente, antecipar problemas e criar soluções que garantam a continuidade e a estabilidade das empresas. Essa vertente consultiva e estratégica foi o que realmente me motivou a desenvolver a minha carreira profissional neste sector.
A minha visão pessoal sobre o sector reflete-se no trabalho que temos desenvolvido, temos de acrescentar valor às empresas que nos confiam a gestão da sua carteira de seguros, apoiando a gestão com soluções de serviço customizadas às suas efetivas necessidades, protegendo ativos e pessoas, e contribuindo assim para o crescimento sustentável dos seus negócios. Essa convicção tem sido o motor do meu percurso que se mistura com o percurso da Corbroker Norte e é nessa base que temos construído relações de confiança com os clientes, com a equipa e com os seguradores.
Na sua opinião, quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam ao assumir posições de liderança no setor de seguros?
O setor de seguros, historicamente, foi dominado por lideranças masculinas. Hoje o cenário ainda mantêm esse desequilíbrio, as mulheres estão a fazer o seu caminho, mas ainda temos um percurso a fazer para quebrar preconceitos subtis , a necessidade de provar competência repetidamente, a resistência a estilos de liderança mais colaborativos , expectativas sociais desiguais , estereótipos persistentes sobre liderança e género ou até a dificuldade em conciliar a progressão profissional com as exigências pessoais dado que para as mulheres continua a existir o estigma de que ambições profissionais se fazem com sacrifício das responsabilidade da vida familiar.
Pode partilhar algum exemplo pessoal ou observação direta?
Recordo situações em que percebi que a minha assertividade era interpretada de forma diferente por ser mulher. Aprendi a não mudar o meu estilo, mas a torná-lo ainda mais claro e consistente. Liderar com autenticidade é, a meu ver, a melhor forma de abrir caminho para outras mulheres.
Como tem gerido o equilíbrio entre responsabilidades profissionais exigentes e a vida pessoal? Que estratégias considera mais eficazes para outras mulheres líderes?
Se há algo que aprendi ao longo da carreira é que equilibrar responsabilidades profissionais e vida pessoal é um desafio constante, gostaria de dar uma resposta inspiradora, mas muitas de nós sentimo-nos pressionadas a dar o seu melhor em todos os campos ao mesmo tempo, eu não sou exceção e ainda estou a aprender a encontrar esse equilíbrio. O que considero essencial é criar uma rede de apoio, dentro e fora do trabalho, e aceitar que algumas fases exigem mais foco num domínio do que noutro. O equilíbrio não é estático, é uma prática contínua e adaptativa, e a capacidade de sermos flexíveis (e tolerantes) connosco mesmas é, muitas vezes, a chave.
Como avalia a evolução da cultura de inclusão de género no setor de seguros nos últimos anos? Quais ainda são as áreas que necessitam de maior atenção?
Tem havido avanços, hoje vemos mais mulheres em posições de decisão, maior sensibilidade das empresas para políticas de igualdade. No entanto, a verdadeira inclusão vai muito além das estatísticas, ainda há caminho a percorrer, especialmente na conciliação entre carreira e vida pessoal, na representação feminina em áreas técnicas e estratégicas, e na promoção de oportunidades de visibilidade e crescimento.
As mulheres que alcançaram ou estão a alcançar posições de liderança no setor devem aproveitar o seu percurso não apenas para consolidar os seus resultados, mas também para abrir portas a outras profissionais. Partilhar experiências, apoiar talentos emergentes e inspirar novas gerações é uma forma concreta de acelerar a mudança e fortalecer uma cultura de liderança inclusiva.
A mentoria e o networking têm um papel importante no crescimento profissional. Que iniciativas ou programas considera mais eficazes para apoiar mulheres que ambicionam posições de liderança?
Sem dúvida, a mentoria é uma ferramenta poderosa: permite acelerar aprendizagens, partilhar experiências e ganhar confiança. No nosso setor, a partilha de conhecimento é especialmente valiosa e essencial para capacitar novos profissionais.
Programas que promovam a interação entre diferentes gerações, redes internas de apoio e formações focadas no desenvolvimento de competências técnicas e de liderança são fundamentais. Mais do que iniciativas formais, acredito que o essencial é criar uma cultura em que pedir orientação seja visto como um sinal de ambição e vontade de crescer. Essa cultura de partilha e colaboração é o que fortalece profissionais e equipas.
Na sua experiência, a liderança feminina traz alguma abordagem diferenciada na gestão de equipas e tomada de decisões no setor de seguros? Pode partilhar exemplos concretos?
Sim, acredito que a liderança feminina tende a valorizar mais a escuta ativa, a colaboração e a empatia — qualidades que são cada vez mais essenciais no mundo corporativo atual.
Na Corbroker Norte, tenho procurado cultivar uma cultura de transparência e proximidade, onde todos se sentem parte do propósito comum. Por exemplo, nas fases mais complexas pelas quais a nossa empresa já passou, optei por envolver as equipas desde o início, com total transparência sobre o desafio e o caminho a percorrer, é preciso trazer as pessoas para o mesmo caminho. Essa abordagem reduz a incerteza e aumenta fortemente o sentido de pertença.
Que oportunidades enxerga para mulheres no setor de seguros nos próximos 5 a 10 anos, especialmente em funções de gestão e inovação?
O setor está a passar por uma transformação profunda, impulsionada pela tecnologia, pela sustentabilidade e por novos modelos de negócio. Isso abre espaço para perfis mais diversos e multidisciplinares — e as mulheres têm muito a contribuir nesse contexto.
Vejo oportunidades nas áreas de análise de dados, experiência do cliente, inovação digital e gestão estratégica. A liderança feminina pode ter um papel determinante na humanização dessa transição tecnológica, garantindo que a inovação continue centrada nas pessoas.
Que conselhos daria a mulheres que estão a iniciar a sua carreira no setor de seguros e sonham com posições de liderança?
Diria para acreditarem no seu valor, procurarem aprender continuamente e não temerem sair da sua zona de conforto. O setor é vasto e oferece oportunidades em múltiplas áreas de intervenção que carecem de competências muito diversas.
Também é importante desenvolver o seu percurso em contextos inspiradores, de partilha e alinhados com os seus propósitos, para que consigam criar uma identidade profissional que se torne o seu maior ativo.
Como gostaria de ser lembrada enquanto uma líder no setor de seguros? Que impacto espera deixar para futuras gerações de mulheres nesta indústria?
Gostaria de ser lembrada como alguém que criou uma identidade de liderança com integridade, empatia e visão, num caminho de trabalho e parceria com todos os stakeholders do setor.