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Da Consciência à Ação: O Impacto Real da All4Integrity

Num país onde a corrupção é muitas vezes encarada como um problema estrutural, quase cultural, a All4Integrity surge como um movimento disruptivo, determinado a quebrar esse ciclo e a redefinir a forma como olhamos para a ética e a responsabilidade coletiva. Criada em 2021. Criada em 2021, esta é a primeira rede global portuguesa dedicada à promoção da integridade, e tem vindo a consolidar o seu papel como agente de transformação social e institucional.
Em entrevista à Business Voice, Ângela Malheiro, Vice-Presidente da Associação, fala com clareza e convicção sobre os desafios e as soluções. A abordagem da All4Integrity aposta na prevenção, na capacitação e na mobilização da sociedade civil, contrariando a ideia de que este é um problema insuperável.
A conversa mergulha nos pilares estratégicos da associação, na urgência de uma nova narrativa em torno da integridade, e no papel que cada cidadão, empresa e instituição pode — e deve — assumir na construção de uma democracia mais saudável e de um país mais justo, sem esquecer o programa RedEscolas AntiCorrupção. Saiba tudo. 

A All4Integrity é apresentada como a primeira rede global portuguesa dedicada à promoção da integridade. Pode contar-nos como nasceu esta iniciativa e qual foi o momento-chave que impulsionou a sua criação?
A Associação All4Integrity, criada em 2021, nasceu da mobilização individual de um português - André Corrêa d’Almeida –, radicado há acerca de 20 anos nos EUA, e que a 5 de outubro de 2020 lançou a partir das ruas de Nova Iorque, e em simultâneo nas redes sociais, uma ação de sensibilização e mobilização procurando que fosse mais alargada dando origem ao movimento que ficou amplamente conhecido nas redes sociais e na imprensa como #libertemomeupaísdacorrupção. 

A corrupção é frequentemente vista como um problema estrutural e cultural. Qual é a abordagem da All4Integrity para contrariar esta perceção e promover uma mudança concreta e sustentável?
Tal como acontece em várias áreas em que Portugal é uma referência positiva decorrente da aplicação de boas práticas (como é o caso do tratamento e reinserção de toxicodependentes, no combate à fraude fiscal dentro do sistema tributário, na promoção e desenvolvimento de áreas ligadas à inovação e ao empreendedorismo, entre muitos outros domínios), a All4Integrity tem como Visão/Missão transformar Portugal numa referência internacional na prevenção e no combate à corrupção por muito utópico que possa parecer nos dias de hoje. Para que tal aconteça procuramos centrar na nossa narrativa e ação uma visão construtiva, ativa e promotora da alteração de comportamentos, assente num discurso positivo e mobilizador, com vista à promoção de uma cultura de integridade. Para tal, ao longo destes quase quatro anos de existência, a All4Integrity tem vindo a desenvolver várias iniciativas e programas que visam a sensibilização da sociedade civil, nomeadamente os agentes económicos, sociais e culturais, entidades públicas e privadas, para o fenómeno da corrupção, crimes conexos e para as suas consequências, mobilizando esforços e reunindo sinergias para a implementação de práticas que visem o reconhecimento do mérito e do valor do trabalho e para o reconhecimento da responsabilidade individual na ação coletiva. Neste processo é fundamental, entre outros, a promoção do diálogo com as entidades responsáveis para a criação e o fortalecimento de políticas públicas e de medidas concretas de combate ao fenómeno da corrupção, crimes conexos e à sua prevenção. O impacto destas ações já começa a surtir o seu efeito! 

Quais são as iniciativas e os programas da All4Integrity que mais se destacam atualmente na promoção de uma cultura de integridade em Portugal? 
Ao fim de quase quatro anos de existência da Associação é muito difícil definir qual ou quais os programas/iniciativas que mais se destacam nesta missão, uma vez que cada um destes programas/iniciativas têm públicos-alvo distintos: (i) a RedEscolas AntiCorrupção, programa escolar de literacia anticorrupção do 7º ao 12º ano de escolaridade, (ii) o Prémio Tágides, procura identificar, reconhecer, celebrar e premiar projetos, trabalhos e/ou iniciativas de uma pessoa, um conjunto de pessoas singulares ou uma organização empresarial que se destaquem na promoção de uma cultura de integridade e na prevenção e luta contra a corrupção em Portugal, em várias áreas da sociedade, (iii) a Tech4Integrity, que recorre a abordagens tecnológicas que podem auxiliar as organizações a serem mais transparentes e soluções tecnológicas para melhorar as atividades de investigação e escrutínio público, (iv) a Academia All4Integrity tem procurado ajudar as instituições a promover a transparência e integridade organizacional, inspiradas pelos valores e visão dos seus responsáveis e amplificadas por boas práticas nacionais e internacionais e (iv) a Integridade+, rubrica semanal de rádio e Podcast, lançada em parceria com rádios locais e regionais, promove conversas com diferentes convidados procurando-se esclarecer conceitos, fazer análises sobre causas e consequências, partilhar boas práticas e mobilizar sociedade civil para a promoção de uma cultura de integridade em Portugal.

A educação para uma cultura de integridade é uma das vossas bandeiras. Como se promove essa cultura de integridade, especialmente às entre as gerações mais novas? 
A RedEscolas AntiCorrupção – escolas que promovem uma cultura de integridade é um programa de literacia anticorrupção, de forte componente cívica, que tem como público-alvo os alunos entre o 7º e o 12º ano, qualquer que seja o tipo de ensino que frequentam (público, privado, regular, profissional, internacional). Trata-se de um programa que promove, no quadro dos valores de uma democracia participativa, e com base na metodologia de projeto, o desenvolvimento de competências dos jovens em idade escolar, e em contexto local, relacionadas com o fenómeno da corrupção e crimes conexos procurando, assim, promover o sentido de espaço público e bem-comum, num processo de elevação de consciências e alteração de comportamentos que favoreçam a disseminação e aprofundamento de uma cultura de integridade em Portugal.
O programa RedEscolas AntiCorrupção está alicerçado em cinco pilares educativos. O primeiro de todos passa por confrontar os nossos jovens à (i) linguagem específica em torno da temática da corrupção e crimes conexos e, consequentemente, conhecer os (ii) respetivos agentes de combate e prevenção. Conhecer conceitos e atores promoverá uma maior (iii) consciencialização, através da avaliação das consequências diretas e indiretas das práticas de corrupção, como os custos económicos e sociais, as perdas, as desigualdades e as injustiças. Motivados para estudar a temática, os alunos são convidados a partir para (iv) a ação desenvolvendo práticas de cidadania individual e coletiva através de um contacto mais estreito com pessoas e instituições do poder local e central. Acreditamos que a médio/longo prazo este programa terá (v) impactos significativos quer a nível individual, com a alteração do comportamento; nas Escolas, com a adoção de novos currículos ou abordagens pedagógicas sobre o tema; na Comunidade, com o desenvolvimento de uma cultura de integridade.

Sendo uma rede global de origem portuguesa, como é que a All4Integrity tem sido recebida internacionalmente? 
O interesse no trabalho que a All4Integrity tem vindo a desenvolver, de forma consistente e concertada entre vários domínios da sociedade, valeu-nos não só o reconhecimento nacional, com a atribuição do Estatuto de Utilidade Pública, e o reconhecimento internacional ao venceu o International AntiCorruption Excellence Award na categoria Youth Creativity and Engagement contributo da Associação para o avanço da agenda anticorrupção da UNODC - United Nations Office on Drugs & Crime, a implementação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção e a persecução dos objetivos anticorrupção da Declaração de Doha.
Ao longo de todo este processo é notável o papel dos portugueses no mundo que, associando-se à All4Integrity numa RedEmbaixadores, têm divulgado o trabalho que estamos a desenvolver e recrutado novos associados, escolas, empresas, media, entre outros. 
Outro exemplo absolutamente extraordinário que acompanhamos fora da fronteira portuguesa é o trabalho que a associação educativa brasileira – Salão do Encontro – tem vindo a desenvolver no âmbito do programa RedEscolas, não só com os alunos, mas em concreto na formação didática e pedagógica dos educadores em matéria de promoção de uma cultura de integridade.

Durante o ano letivo de 2024/2025, várias escolas do distrito do Porto participaram no programa RedEscolas AntiCorrupção. Que balanço faz desta edição e da adesão crescente por parte das comunidades escolares?
Como professora e criadora do programa RedEscolas AntiCorrupção não posso negar a alegria e emoção em acompanhar, ano após ano, ao crescimento de número de escolas que aderem ao programa, a quantidade e qualidade dos projetos desenvolvidos por professores de diferentes áreas curriculares, a forma como esses projetos são planeados tendo em vista a envolverem a comunidade escolar, as diferentes instituições locais, nomeadamente do poder local. O que está a acontecer nas escolas é absolutamente transformador quer pelas práticas pedagógicas que aí estão a ser implementadas, pelas narrativas multidisciplinares que estão a ser desenvolvidas, pelo valor da atualidade e da urgência da abordagem temática, pelo fomento do trabalho de projeto, pela forma como os alunos aderem a este projetos, pela envolvências dos restantes atores educativos...enfim, pelo desenvolvimento de inúmeras competências essenciais para que os nossos jovens se tornem cidadãos mais esclarecidos e participativos na sociedade.

Os selos digitais podem parecer, à partida, apenas uma distinção simbólica. Mas acredita que eles ajudam efetivamente a mudar mentalidades – tanto dentro como fora da escola?
Os selos digitais são um simples reconhecimento do trabalho que as escolas desenvolvem em cada ano escolar. A maior distinção será o impacto que o programa teve/tem na alteração de comportamentos dos diferentes atores educativos, a começar pelos jovens. Por isso, desde 2023, estamos muito focados em monitorizar e avaliar o impacto deste nosso programa escolar de literacia anticorrupção cujos Primeiros Elementos de Avaliação foram divulgadas no início deste ano.

Se pudesse deixar uma mensagem a todos os jovens que participaram nesta iniciativa, qual seria? E que papel acredita que podem ter no futuro do país enquanto agentes de integridade?
Como professora e cidadã não posso estar mais orgulhosa pelo trabalho que os nossos jovens têm vindo a desenvolver, e como o têm feito tendo em conta as suas realidades locais, as especificidades nas suas áreas de ensino numa abordagem com uma forte ligação com a comunidade educativa. 
A quem diz que os jovens são a esperança do amanhã eu digo que estes jovens não são o futuro, mas sim o hoje!
Há, com certeza, muito trabalho a desenvolver que requer consistência e aprofundamento na formação, dentro e fora da escola.
Parafraseando o Professor José Mattoso “Espero que todos aqueles que têm o mesmo respeito pelo sentido profundo da solidariedade humana encontrem nas palavras em que acreditam a inspiração para colaborarem efetivamente na construção de um [país] melhor(...)”



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